quinta-feira, 21 de junho de 2007

Medical Mechanica


Imaginem que acordam todos os dias numa cidade industrial, onde nada acontece e as mesmas pessoas fazem as mesmas coisas, exactamente aquilo de que estavam á espera. Têm 12 anos, o vosso irmão mais velho "pirou-se" para a América, onde é uma estrela de Baseball, o vosso pai um pervertido solteirão que publica revistas de má-língua e a escola é uma seca. Todos os dias, depois das aulas, vais treinar para um descampado, talvez fiques um craque também, talvez consigas sair deste sítio. A ex-namorada do teu irmão segue-te para todo o lado, sussurra-te ao ouvido, faz-te coisas estranhas, sabes que deve ser louca, mas não a contrarias, pelo menos é algo fora da norma, da rotina, ao contrário daquelas gigantescas nuvens de fumo que a fábrica no centro da cidade cospe todos os dias, à mesma hora.


"Nothing amazing ever happens here."



Esse zumbido que ouves é só o motor de uma Vespa amarela. Vai em excesso de velocidade.



As pancadas metálicas vêm de uma "bass-guitar" a embater contra o chão de granito. Estão a aproximar-se.




Pensas que ouves música a tocar no background. Não a reconheces, mas é rock'n'roll, e toda a cena parece mover-se a esse ritmo frenético, cada vez mais forte, mais rápido.




Levantas-te do chão e olhas em frente.




Pang!


The Pillows - Advice




E quando dão por isso têm uma alienígena caçadora de prémios a viver na vossa casa e saem robots da vossa testa.


Bem-vindos ao autêntico Furi Kuri.




Há uma série de anime perfeita, e é esta.

Não se arrasta durante centenas de episódios, só tem 6. Não se esconde, nem ás eventuais falhas de narrativa, por trás de conceitos genéricos e fantasiosos, em vez disso, mistura-se, ilude o espectador enquanto se espreme por entre quase todos os géneros para criar um produto esquizofrénico e irresistível.

Não precisa de se apoiar em grandes modas culturais para ter sucesso entre o público, mas não se inibe de pegar nelas e fazer malabarismos, goza com cada uma e depois deita-a fora como se não lhe interessasse.


É um pouco estranho falar assim de uma série de televisão, mas que querem? Estou apaixonado por um anime. ^^



Um pouco mais (porque onde estaria todo este Furi Kuri sem os the pillows):
Ride On Shooting Star
Little Busters
Come Down
CARNIVAL

(os acordes mais doces que já ouviram)

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Primer




Ontem fui surpreendido quando vi que este filme ia passar no Lusomundo Action. Surpreendido pela positiva, porque estava na minha lista de "must-sees" e confuso por um filme independente e, no geral, calminho, para pensar, ir dar no Lusomundo Action.

Não é fácil de ver, e o que li sobre ele preparou-me para isso mesmo. Antes de mais, é um daqueles filmes que conhecemos pela reputação que atingiram. Ora vejamos, premiado em Sundance (o que é, admito, um critério que me desperta logo a curiosidade), realizado por um herói indie, um indivíduo pouco ou nada relacionado ao cinema que escreve, realiza, protagoniza, compõe a música e consegue criar um filme pela módica quantia de 7000 dólares. Antes de mais, uma vénia a Shane Carruth.

Agora, em relação ao filme.

É um puzzle de ficção científica, mas sem efeitos especiais, explosões, extraterrestres, ou sequer um computador. Em vez disso, há uma caixa. Uma caixa criada por dois engenheiros que se juntam na garagem de um deles regularmente, na esperança de criar a invenção que os deixará ricos e os livrará dos empregos entediantes e da vida de classe média. Então, eles inventam uma caixa.

Mas o que faz a caixa? Algo especial. Algo que não era suposto fazer, ou, pelo menos, que os seus criadores não sabem como o faz. Mas não hesitam em usá-la.

É um autêntico puzzle, porque nunca facilita nada a quem o vê. Os diálogos são numa linguagem própria de engenheiros (o próprio Shane é um engenheiro quando não está a fazer filmes), muito técnica, e há saltos de narrativa bruscos. No entanto, a história permite um certo seguimento, que é o que nos dá esperança. Formulamos teorias, sentimo-nos atraídos com o conceito do filme (excelente) e estimulados com a forma quase "caseira" com que é filmado.

O trailer não diz grande coisa sobre a história, mas desconfio que qualquer promoção ao filme ficaria aquém do resultado desejado.




E o que faz a caixa? Ah pois....