sábado, 10 de março de 2007

instrumentações

Ela disse:

- Hoje preciso de ouvir algo intrumental… mas com aquele sentimento… Sabes do que estou a falar?

- É claro.

- Então, o que tens para mim?

- Além do óbvio?

- Por favor.

- Acho que tenho o ideal. Serve-te?

- Hum… não sei… Preferia algo menos previsível… como aquela banda que me mostraste no outro dia, sabes? Algo feito com paixão, puro gozo. Algo assim.

- Mas sem cantar?

- Sim.

- E existirá tal música?

- Tem de existir. Eu pensei nela. Ouvi-a na minha cabeça.

- E não terá sido imaginação?

- Não. Não sou assim tão criativa.

- E um sonho? Os sonhos vão sempre um passo além da imaginação.

- Também não me parece. Normalmente só sonho com coisas estúpidas e esta canção não é de certeza estúpida.

- E é assim tão importante?

- Não… é estranho… Não é uma canção séria, nem importante…No entanto, para mim é… demasiado importante para ser levada a sério… Compreendes?

- Nem por isso.

- Bem, não sei como explicar melhor. Ajudas-me a encontrá-la, ou não?

- Sim, quanto a isso podes contar comigo. Se não a sonhaste ou imaginaste, então tem de estar aqui. Por onde começamos?

- Tanto faz, acho eu. Tu começa por aquela ponta, que eu começo nesta. E encontramo-nos no meio, que tal?

- Parece-me um plano.

____//____

- Hã…Sofia?

- Sim?

- Queres ouvir a minha teoria sobre a música intrumental?

- (risos) Tens uma teoria? Como é?

- Prometes não te rir?

- Não!

- …Está bem, aqui vai. Existe música que é cantada e música sem voz, certo?

- Duh…

- Sim, bem… mas as pessoas ouvem muito mais da primeira. Porquê?

- É uma questão de comercialização, penso eu.

- Talvez… Mas eu acho que, mais do que isso, as pessoas gostam de ouvir as palavras. É mais familiar para elas, uma música que fale numa linguagem semelhante à sua própria. As pessoas estranham as canções sem palavras porquê? Porque não as entendem. Não entendem o que dizem.

- Nem todas!

- Calma, eu sei. Estou a falar no geral. Maior parte das pessoas não percebem o que lhes estão a dizer artistas que se recusam a falar. Por isso é que maior parte desses artistas tem de… traduzir as suas canções de alguma forma. Torná-las mais acessíveis, mais explícitas. Assim, a minha teoria é esta: as “lyrics” são a música traduzida para pessoas. E isso torna a música instrumental num objecto puro, intocado, e sem explicações…

- Está bem pensado, sim senhor. Gostei!

- A sério?! Fixe! Olha, acho que encontrei aqui qualquer coisa. Anda cá ver. É isto?

- Fuck! É isso mesmo!! Onde estava?!

- Aqui mesmo, escondido lá atrás. É isto, de certeza?

- Sim! Obrigada! (abraça-o)

- Ok. Ok. Vamos lá ouvir, então.

- Vamos, vamos! Onde está o gira-discos?

- Dá cá.

(Fernando levanta-se e desloca-se até ao fundo da sala, onde está um velho gira-discos. Com todo o cuidado, retira a roda negra do envelope de cartão e monta-a no aparelho. Ao pressioná-lo, o botão dá um estalo e a agulha movimenta-se automaticamente e cai sobre o disco.)

2 comentários:

euphrosyne disse...

hum....essa Sofia faz-me lembrar alguém =P
gostei !
e Red Sparowes ^^

Eva disse...

This is a photograph of me. I just wish I could read what you've written!