instrumentações
Ela disse:
- Hoje preciso de ouvir algo intrumental… mas com aquele sentimento… Sabes do que estou a falar?
- É claro.
- Então, o que tens para mim?
- Além do óbvio?
- Por favor.
- Acho que tenho o ideal. Serve-te?
- Hum… não sei… Preferia algo menos previsível… como aquela banda que me mostraste no outro dia, sabes? Algo feito com paixão, puro gozo. Algo assim.
- Mas sem cantar?
- Sim.
- E existirá tal música?
- Tem de existir. Eu pensei nela. Ouvi-a na minha cabeça.
- E não terá sido imaginação?
- Não. Não sou assim tão criativa.
- E um sonho? Os sonhos vão sempre um passo além da imaginação.
- Também não me parece. Normalmente só sonho com coisas estúpidas e esta canção não é de certeza estúpida.
- E é assim tão importante?
- Não… é estranho… Não é uma canção séria, nem importante…No entanto, para mim é… demasiado importante para ser levada a sério… Compreendes?
- Nem por isso.
- Bem, não sei como explicar melhor. Ajudas-me a encontrá-la, ou não?
- Sim, quanto a isso podes contar comigo. Se não a sonhaste ou imaginaste, então tem de estar aqui. Por onde começamos?
- Tanto faz, acho eu. Tu começa por aquela ponta, que eu começo nesta. E encontramo-nos no meio, que tal?
- Parece-me um plano.
____//____
- Hã…Sofia?
- Sim?
- Queres ouvir a minha teoria sobre a música intrumental?
- (risos) Tens uma teoria? Como é?
- Prometes não te rir?
- Não!
- …Está bem, aqui vai. Existe música que é cantada e música sem voz, certo?
- Duh…
- Sim, bem… mas as pessoas ouvem muito mais da primeira. Porquê?
- É uma questão de comercialização, penso eu.
- Talvez… Mas eu acho que, mais do que isso, as pessoas gostam de ouvir as palavras. É mais familiar para elas, uma música que fale numa linguagem semelhante à sua própria. As pessoas estranham as canções sem palavras porquê? Porque não as entendem. Não entendem o que dizem.
- Nem todas!
- Calma, eu sei. Estou a falar no geral. Maior parte das pessoas não percebem o que lhes estão a dizer artistas que se recusam a falar. Por isso é que maior parte desses artistas tem de… traduzir as suas canções de alguma forma. Torná-las mais acessíveis, mais explícitas. Assim, a minha teoria é esta: as “lyrics” são a música traduzida para pessoas. E isso torna a música instrumental num objecto puro, intocado, e sem explicações…
- Está bem pensado, sim senhor. Gostei!
- A sério?! Fixe! Olha, acho que encontrei aqui qualquer coisa. Anda cá ver. É isto?
- Fuck! É isso mesmo!! Onde estava?!
- Aqui mesmo, escondido lá atrás. É isto, de certeza?
- Sim! Obrigada! (abraça-o)
- Ok. Ok. Vamos lá ouvir, então.
- Vamos, vamos! Onde está o gira-discos?
- Dá cá.
(Fernando levanta-se e desloca-se até ao fundo da sala, onde está um velho gira-discos. Com todo o cuidado, retira a roda negra do envelope de cartão e monta-a no aparelho. Ao pressioná-lo, o botão dá um estalo e a agulha movimenta-se automaticamente e cai sobre o disco.)
2 comentários:
hum....essa Sofia faz-me lembrar alguém =P
gostei !
e Red Sparowes ^^
This is a photograph of me. I just wish I could read what you've written!
Enviar um comentário