Scoop & I Heart Huckabees
Este fim-de-semana vi dois filmes, duas comédias, muito diferentes uma da outra. A primeira foi I Heart Huckabees, presente na minha lista de filmes a ver e que aluguei na sexta-feira. O segundo foi Scoop, o novo de Woody Allen, depois do fantástico Match Point, que fui ver ao cinema no sábado.
I Heart Huckabees é uma surpresa agradável como não tinha há muito tempo. Não me acontecia acabar de ver um filme e querer vê-lo novamente logo a seguir desde... talvez o Dr. Estranho-Amor, que comprei há uns meses. É a comédia mais refrescante que vi nos últimos anos. Toda a temática existencialista como desculpa para uma "investigação" filosófica por parte dos veteranos Dustin Hoffman e Lily Tomlin é simplesmente deliciosa. Aliás, não há uma única personagem que não seja, à falta de melhor termo, adorável. Desde o Jason Schwartzman em plena crise de nervos por ver toda a glória a favorecer o seu adversário Jude Law (já agora, este deve ter sido o único filme em que gostei de ver dois actores com que costumo embirrar, Jude e o Mark Wahlberg). Este, com o seu sorriso contagiante que também lhe serve de arma e escudo, pensa estar um passo à frente do resto do mundo por ser simpático para todos e por todos adorado. O bombeiro preocupado com a crise de petróleo que se recusa a andar no camião do quartel. (É apenas um dos momentos desarmantes do filme, quando menos se espera, não conseguimos evitar uma gargalhada) ou ainda a aluna desertora dos detectives existencialistas, a modelo que se preocupa por ser só uma cara bonita, a escolha é imensa. O diálogo é uma grande técnica do filme para conquistar, mesmo sendo tão acelerado e por vezes confuso, não conseguimos tirar um sorriso dos lábios. Não se pode pedir mais de uma comédia.
Quanto a Scoop, sou daqueles que está um pouco... desiludido, sim, mas de certa forma não esperava outra coisa, percebem? Cá no fundo, sabia que a personalidade do Woody Allen trabalha por desígnios que só ele conhece (talvez nem ele) e que Match Point foi tanto um golpe de génio como um resultado dos humores do Woody. Acredito que ele seja um grande cineasta, de certa forma, o Match Point serviu precisamente para não nos esquecermos disso, mas a questão é outra, o próprio Woody não parece interessado em fazer filmes geniais. Ele faz o que gosta, sempre fez, e o que ele quer fazer agora são estas comédias screwball, com o diálogo fulminante a que nos habituou. A única diferença é que agora, apesar das suas aparições, contrata "assistentes" para o interpretarem, sósias, quase. Antes foi Will Ferrel, Jason Biggs, agora é Scarlett Johansson, que carrega os seus tiques e manias de nova-iorquino nervoso. Há que respeitar o senhor Allen, que realmente está a fazer cinema porque gosta, não para nos agradar, e há uma certa coragem nisso. E mesmo os seus piores filmes, os menos inspirados, servem para nos fazer rir e ainda conseguem ser melhores que muitos outros. Não é um filme que muita gente se vá lembrar daqui a vinte anos, mas continua a ser uma boa comédia.
Quanto a nós, os fãs, só nos resta esperar que ele tenha outra manifestação de génio antes de nos deixar. Senão, teremos sempre os clássicos e aquele homenzinho nervoso no ecrã, a agitar as mãos e a balbuciar. É essa a imagem que guardei da minha infância de um dos meus cineastas favoritos.
Sem comentários:
Enviar um comentário